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Unindo-se ao corpo, o Espírito não se identifica com a matéria. A matéria é apenas o envoltório do Espírito, como o vestuário o é do corpo. Unindo-se a este, o Espírito conserva os atributos da natureza espiritual.
O exercício das faculdades do Espírito depende dos órgãos que lhes servem de instrumento. A grosseria da matéria as enfraquece. Assim, o invólucro material é obstáculo à livre manifestação das faculdades do Espírito, como um vidro opaco o é à livre irradiação da luz.
O
livre exercício das faculdades da alma está subordinado ao desenvolvimento dos
órgãos. Os órgãos são os instrumentos da manifestação das faculdades da
alma, manifestação que se acha subordinada ao desenvolvimento e ao grau de
perfeição dos órgãos, como a excelência de um trabalho o está à da ferramenta própria à sua execução.
As
faculdades morais e intelectuais não estão diretamente relacionados ao
desenvolvimento do cérebro. Não confundais o efeito com a causa. O Espírito
dispõe sempre das faculdades que lhe são próprias. Ora, não são os órgãos
que dão as faculdades, e sim estas que impulsionam o desenvolvimento dos
órgãos.O
princípio dessa diversidade reside nas qualidades do Espírito, que pode ser mais ou menos adiantado. Entretanto, a
diversidade das aptidões entre os homens deriva, não unicamente, do estado do
Espírito.Cumpre,
porém, se leve em conta a influência da matéria, que mais ou menos lhe
cerceia o exercício
de suas faculdades. Encarnado, traz o Espírito certas predisposições e, se se
admitir que a cada uma corresponda no cérebro um órgão, o desenvolvimento
desses órgãos será efeito e não causa.Se
nos órgãos estivesse o princípio das faculdades, o homem seria máquina sem livre-arbítrio e sem a responsabilidade de seus atos. Forçoso então fora
admitir-se que os maiores gênios, os sábios, os poetas, os artistas, só o
são porque o acaso lhes deu órgãos especiais, donde se seguiria que, sem
esses órgãos, não teriam sido gênios e que, assim, o maior dos imbecis
houvera podido ser um Newton, um Vergílio, ou um Rafael, desde que de certos
órgãos se achassem providos. Ainda mais absurda se mostra semelhante
hipótese, se a aplicarmos às qualidades morais. Efetivamente, segundo esse
sistema, um Vicente de Paulo, se a Natureza o dotara de tal ou tal órgão,
teria podido ser um celerado e o maior dos celerados não precisaria senão de
um certo órgão para ser um Vicente de Paulo. Admita-se, ao contrário, que os
órgãos especiais, dado existam são conseqüentes, que se desenvolvem por
efeito do exercício da faculdade, como os músculos por efeito do movimento, e
a nenhuma conclusão irracional se chegará. Sirvamo-nos de uma comparação
trivial à força de ser verdadeira. Por alguns sinais fisionômicos se
reconhece que um homem tem o vício da embriaguez. Serão esses sinais que fazem
dele um ébrio, ou será a ebriedade que nele imprime aqueles sinais? Pode
dizer-se que os órgãos recebem o cunho das faculdades.
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