GUIA.HEU
20 Anos
Gênese das faculdades supranormais subconscientes
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Crianças e Adolescentes
DESAPARECIDOS

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____Os_opositores_da_tese_espírita esforçam-se em demonstrar que a gênese das faculdades supranormais subconscientes se inclui na órbita da evolução_biológica_da_espécie. Eles se julgam autorizados a ampliar, à vontade, os poderes supranormais das faculdades em apreço, à medida que se produzem incidentes_de_identificação_de_defuntos, incidentes cada vez mais inexplicáveis por meio de hipóteses naturalísticas. Essas ampliações já chegaram aos portentosos extremos de conferirem à subconsciência_humana os atributos divinos da onisciência e da onividência.
____Do que fica exposto decorre que a primeira objeção a ser refutada, ou, se o preferirem, o primeiro erro a ser corrigido nas opiniões dos opositores gira em torno do fato de que eles, para alcançarem seu escopo, se servem das faculdades normais subconscientes, no pressuposto de que o perturbador enigma de existirem, na subconsciência humana, portentosas faculdades praticamente inúteis, se pode elucidar em sentido naturalístico e no pressuposto também de terem alcançado seu objetivo com o formularem diversas hipóteses que, embora contrastando umas com outras, concordam todas em constranger – assim direi – as faculdades_supranormais_subconscientes a entrar na órbita da lei de evolução biológica, condição indispensável, esta última, a lhes legitimar cientificamente a origem naturalística. Porque, se, ao contrário, as faculdades de que se trata independessem da lei de evolução biológica, tal fato, então, provaria a gênese espiritual das aludidas faculdades, com as conseqüências teóricas daí decorrentes.
____São as seguintes as hipóteses formuladas a esse propósito, pelos opositores:

  • 1° – As faculdades supranormais subconscientes são resíduos de faculdades atávicas que se foram atrofiando por obra da “ seleção_natural”, visto se haverem tornado inúteis à ulterior evolução biológica da espécie.
  • 2° – As faculdades supranormais subconscientes são rudimentos abortivos de sentidos que nunca evolveram e jamais evolverão, por inúteis à espécie na luta pela vida.
  • 3° – As faculdades supranormais subconscientes representam outros tantos germens de sentidos novos destinados a evolver nos séculos, até emergirem e se fixarem estavelmente na espécie.
  • 4° – O fato de se manifestarem nalguns indivíduos, em lampejos fugazes, faculdades_sensórias_de_ordem_supranormal não implica que as mesmas faculdades hajam de existir, em estado latente, nas subconsciências de todos.

____Tais as hipóteses com as quais os opositores ganham a ilusão de haverem constrangido as faculdades supranormais subconscientes a encaixar-se na órbita da lei de evolução biológica.
____Postas as coisas nestes termos, faz-se mister demonstrar aos opositores que tudo concorre para provar o contrário, isto é, que as faculdades supranormais subconscientes não são e não podem ser levadas a cargo da evolução da espécie e que, ao demais, semelhantes conclusões resultam validíssimas, mesmo na hipótese de que as aludidas faculdades se destinassem a emergir e fixar-se na espécie em afastadíssimo porvir, hipótese que, entretanto, se revela insustentável em face da análise comparada dos fatos, assim como insustentáveis se revelam as outras hipóteses menores acima enumeradas.
____Dito isto, entro no assunto, cuidando, antes de tudo, de eliminar rapidamente três das mencionadas hipóteses, as quais tão inconsistentes se mostram, que não apresentam valor teórico de espécie alguma.
____Para clareza da discussão, importa começar lembrando que nos eixos da teoria_evolucionista se encaixam duas leis biológicas indissoluvelmente conjugadas entre si:

  • a das variações espontâneos nos organismos vivos, variações que, por serem úteis aos indivíduos na diuturna luta pela vida, chegam gradativamente a fixar-se e a evolver na descendência, em virtude de outra lei,
  • a da seleção natural, que se compendia no fato da progressiva extinção dos indivíduos menos aptos àquela luta e na “sobrevivência dos mais aptos”, o que, necessariamente, leva à elaboração de organismos estavelmente providos dos sentidos e das faculdades mais adequadas ao ambiente em que eles vivem.

____Portanto:

  • Aplicando essas leis biológicas àprimeira das hipóteses acima citadas, logo se evidencia que a própria hipótese se acha em flagrante contradição com os fatos. Para que disso se convença quem quer que seja, bastará considere o modo pelo qual praticamente se desenvolve a luta pela vida, na espécie humana.
    • Do chefe de uma tribo selvagem, que procura penetrar com astúcia o pensamento doutro chefe seu antagonista, até ao generalíssimo de um exército moderno, aplicado a prever, para preveni-los, os movimentos do inimigo
    • do tirano da antiguidade, que vigia desconfiado os seus cortesãos aduladores, ao juiz de instrução do nosso tempo, a estudar o meio de colher do delinqüente o seu segredo
    • do homem de governo que se esforça por descobrir os propósitos de um chefe de partido contrário, ao ávido comerciante que espreita o seu concorrente para sobrepujá-lo
    • do amante infortunado que vela sobre os passos do odiado rival, ao marido ciumento, que esquadrinha no olhar da esposa a prova da sua culpa, entre os homens, reinou sempre um afanoso enfurecimento recíproco e sem trégua, com o fim, da parte de cada um, de penetrar no ânimo dos outros e tudo isso, necessariamente, fatalmente, pois que, em tal sentido é que urge a luta pela vida.

    Segue-se daí que se a espécie, nalgum tempo, se houvesse achado provida normalmente dos sentidos_telepáticos e clarividentes, estes, longe de se atrofiarem pelo desuso, deveram afinar-se e evolver rapidamente na descendência, em virtude da lei de seleção, que houvera conduzido fatalmente à gradual extinção dos indivíduos imperfeitamente aparelhados dos mesmos sentidos e à sobrevivência dos mais bem dotados deles.
    Tudo isso parece, com efeito, tão manifesto, que não se me afigura necessário estender-me mais sobre o tema.

  • Por idênticas considerações, igualmente insustentável considero a segunda das hipóteses em exame, que o professor A. J. Balfour expõe da seguinte maneira:
    • Não será, porventura, lícito supor-se nos achemos aqui em presença de rudimentares germens de sentidos que nunca se desenvolveram e que, provavelmente, jamais se desenvolverão por obra da “seleção natural”, visto serem simples produtos de refugo da grande trama evolucionista, isto é, produtos que de maneira nenhuma poderiam utilizar-se?
    • E pode dar-se (aventuro uma mera hipótese inverificável), pode dar-se, digo, que, nos casos de indivíduos_assim_dotados_normalmente, venhamos a encontrar-nos em face de faculdades que não teriam deixado de evolver e de tornar-se patrimônio comum da espécie, se houvessem demonstrado merecedoras de que com elas se ocupasse a Natureza, ou, seja, se houvessem mostrado propícias, de qualquer modo, à luta pela vida.” (Proceedings of the S. P. R., vol. X, página 7).
      Temos visto, ao contrário, que a imensa utilidade de tais faculdades teria coincidido, de forma incontestável, com as diretivas que a luta pela vida impõe à espécie humana. Estabelecido este ponto, torna-se ocioso recorrer a outros argumentos para demonstrar que a referida hipótese resulta errada nas premissas e não resiste à prova dos fatos.
  • Passo, portanto, à terceira das hipóteses a serem eliminadas. é uma hipótese indispensável aos propugnadores da tese naturalística, porquanto necessária a corroborar o asserto de que as faculdades supranormais subconscientes, à guisa das faculdades sensórias normais, se originam de uma única lei biológica: a das “variações espontâneas”, que, em virtude de outra lei complementar, a da “seleção natural”, viriam a generalizar-se gradualmente na espécie.
    Nada de mais racional, à primeira vista, do que semelhante hipótese e ninguém pensaria em contradizer o Sr. Marcelo Mangin, quando observa:
    • Poderei desejar, durante vinte anos, com todas as forças de minha alma, adquirir esses dons maravilhosos, sem que ao cabo do vigésimo ano perceba em mim o mais insignificante indício de tais dons.” (Annales des Sciences Psychiques, 1903, página 241).

    ____Apresentada sob essa forma, a argumentação parece incontestável, o que não impede que, tomando por base a análise comparada dos fatos, se tenha de concluir resolutivamente no sentido da universalidade dos aludidos dons. Para verificar-se que assim é, bastará se pondere que a grande maioria dos indivíduos com os quais se dão manifestações da natureza das de que tratamos se conservam nas condições negativas do Sr. Marcelo Mangin, enquanto...

    • não lhes sobrevém alguma enfermidade grave,
    • ou não lhes chega à hora da agonia,
    • ou não lhes sucede algum sério acidente traumático-cerebral, (Ver: EQM)
    • Ou não lhes acontece cair em delíquio,
    • ou submeter-se a experiências sonambúlico-hipnóticas,
    • ou fazer inalações de éter
    • e assim por diante.

____Cingir-me-ei a lembrar que se contam por centenas os casos desse gênero, nos quais se nota uma variedade altamente sugestiva de situações episódicas, conducentes, de modo irresistível, às seguintes conclusões gerais:

  • Tendo-se em conta que o manifestarem-se de súbito no homem faculdades supranormais, muitíssimo superiores às normais, não pode ser atribuído ao fato de que um trauma na cabeça, um delírio febril, um estado comatoso, ou uma inalação de éter as tenham criado do nada,
  • forçoso será se deduza que tais faculdades existem, em estado latente, nas subconsciências de todos e que os estados traumáticos, febris, comatosos, determinando no indivíduo um enfraquecimento ou uma parada temporária das funções da vida de relação, chegam a criar uma condição favorável a que as ditas faculdades surjam, também temporariamente.
  • Por outras palavras: as faculdades da subconsciência, em virtude da sobrevinda parada, teriam meio – por assim dizer – de infiltrar-se pelas comissuras que se abriram no diafragma que as separa das faculdades psíquicas conscientes e de irromper no campo da consciência normal.

____Segue-se que, baseado nas provas de fato acima expostas e nas considerações daí decorrentes, a ninguém será lícito pretender que na sua própria subconsciência não existam faculdades supranormais. Ninguém poderá afirmar com segurança senão que não é sujeito a irrupções espontâneas das faculdades subconscientes no plano consciente e normal da psique, irrupções que constituem a diferença que existe entre os chamados sensitivos e os que não o são.
____Com isto, considero respondida exaustivamente a questão implícita na hipótese acima reproduzida.

  • Resta discutir a última das quatro hipóteses formuladas pelos opositores, hipótese esta que, mais do que qualquer outra, se mostra verossímil e racional. Nada obstante, resultará fácil demonstrar que também esta hipótese não resiste à análise dos fatos. Advirto que, ao discutir a tese em apreço, terei necessidade de explanar a fundo outra tese importantíssima e fundamental no presente debate: a em que se afirma que as faculdades supranormais subconscientes não são e não podem ser fruto da evolução biológica da espécie.
    Também nesta circunstância importa começar lembrando que a atividade organizadora da evolução biológica se exercita por meio de uma lei grandiosa e ao mesmo tempo simplíssima: a da “seleção natural”. Isto posto, ser-me-á fácil demonstrar que as faculdades supranormais subconscientes não são produto da “seleção natural”, porque são estranhas ao ambiente em que esta última se processa, o que equivale a afirmar que as referidas faculdades não se destinam a emergir e fixar-se permanentemente na espécie, como sentidos normais. Acrescente-se que, se as faculdades supranormais não são produto da “seleção natural”, por serem estranhas ao ambiente em que esta última se processa, igualmente se deve excluir a ideia de que a outra lei biológica, das “variações espontâneas”, chegue a lhes explicar a gênese. Deve-se afastar esta ideia, pela consideração de que o fato biológico das “variações espontâneas” não pode deixar de originar-se da soma dos estímulos que do mundo exterior chegam aos centros nervosos, ou, em outros termos, não pode deixar de ser gerado pelas relações indissolúveis que unem os centros nervosos ao plano da vida de relação. Se assim não fosse, então a gênese das “variações espontâneas” seria de ordem espiritual, o que os modernos biologistas não admitem e, se o admitissem, razão não mais haveria para discutirmos a questão em apreço.

____Partindo de tudo o que fica dito, deve-se concluir que, para provar a validez da tese que propugnamos, basta esta só capitalíssima circunstância de fato: que as condições requeridas para que as faculdades sensórias normais cheguem a despontar e evolver são diametral e irredutivelmente contrárias às que se exigem para que as faculdades supranormais subconscientes cheguem a surgir e explicar-se.

____Vejamos:

____As pesquisas biológicas e morfológicas hão demonstrado que os órgãos dos sentidos não eram, na origem, senão centros rudimentares de sensibilidade diferenciada, que se localizaram na periferia, sob a ação de estímulos exteriores e isso nos pontos que correspondiam aos filamentos terminais de fibras nervosas receptoras, servindo de cabeça aos gânglios centrais, sede de reações psíquicas. Assim, as pesquisas psicofisiológicas evidenciaram que a gênese e a evolução das faculdades normais da psique dependem da complexidade e da natureza das sensações e percepções que os órgãos da vida de relação transmitem do mundo exterior aos centros de elaboração psíquica. Cumpre, portanto, se tenha bem em mente que a obra dos fatores da evolução, nas suas relações com a gênese e a evolução dos órgãos dos sentidos e das faculdades psíquicas normais, se executa necessária e exclusivamente no plano da vida de relação, sob a forma de uma reação contínua e complexa, contra os estímulos exteriores. Quer isso dizer que se executa no plano da consciência normal, que é aquele no qual se desenvolve, para os seres sensíveis e animados, a luta pela vida. (Ver: Formação dos sentidos)
____Firmado esse ponto e passando a analisar as modalidades sob as quais se manifestam as faculdades supranormais subconscientes, é de assinalar-se que estas, em vez de se exercitarem no plano da consciência normal, somente surgem sob a condição de que as funções da vida de relação se achem temporariamente abolidas ou apagadas, dependendo do grau, mais ou menos profundo, de inconsciência em que jaza o sensitivo, o grau de maior ou menor perfeição com que elas se exteriorizam. Ora, não se podendo negar que, imerso no estado de inconsciência, um organismo sensiente é um organismo temporariamente privado de qualquer relação com o mundo exterior – portanto, impotente para a luta pela vida – logicamente se segue que os fatores biológicos não podem, não puderam e não poderão nunca nenhuma influência exercer, por mínima, que seja, sobre a gênese e a evolução das faculdades psicosensórias subconscientes, o que equivale a reconhecer-se que essas faculdades pertencem a um plano qualitativamente diverso e em absoluto independente daquele em que agem os fatores da evolução biológica.
____Isto posto, apresentam-se e se impõem as seguintes questões:

  • Se não existem relações de causa e efeito entre os fatores da evolução biológica e as faculdades supranormais subconscientes, qual então será a gênese dessas faculdades?
  • Porque permanecem elas inoperantes, em estado latente, nos recessos da subconsciência, ao invés de se exercitarem a bem da Humanidade?
  • Porque se limitam a aparecer, em momentos fugazes e somente em razão do estado de inconsciência em que jaz o sensitivo?
  • Que finalidades terão, sendo tão misteriosas e anormais as características das suas manifestações?

____Tanto quanto as outras, esta última pergunta se impõe, visto que qualquer coisa, em a Natureza, pelo só fato de existir, é finalidade que se revela.

  • Parece indubitável, pois, que a única solução racional dos formidáveis enigmas enunciados consiste em reconhecer-se que as faculdades subconscientes não se destinam a exercitar-se em ambiente terreno, por serem faculdades de sentido da existência espiritual, aguardando, para emergir e exercitar-se, o ambiente espiritual que sucede à crise da morte.

[111 - páginas 14 / 23] - Ernesto Bozzano

Ver também:
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