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Médiuns interesseiros não são apenas os que porventura exijam uma retribuição fixa; o interesse nem sempre se traduz pela esperança de um ganho material, mas também pelas ambições de toda sorte, sobre as quais se fundem esperanças pessoais.É esse um dos defeitos de que os Espíritos_zombeteiros sabem muito bem tirar partido e de que se aproveitam com uma habilidade, uma astúcia verdadeiramente notáveis, embalando com falaciosas ilusões os que desse modo se lhes colocam sob a dependência.Em resumo, a mediunidade é uma faculdade concedida para o bem e os bons Espíritos se afastam de quem pretenda fazer dela um degrau para chegar ao que quer que seja, que não corresponda às vistas da Providência.O egoísmo é a chaga da sociedade; os bons Espíritos a combatem; a ninguém, portanto, assiste o direito de supor que eles o venham servir. Isto é tão racional, que inútil fora insistir mais sobre este ponto.
Não estão no mesmo caso os sonâmbulos que empregam sua faculdade de
modo
lucrativo. Conquanto essa exploração esteja sujeita a abusos e o desinteresse constitua
a maior garantia de sinceridade, a posição é diferente, tendo-se em vista que
são
seus próprios Espíritos que agem. Estes, por conseguinte, lhes estão sempre
à disposição
e, em realidade, eles só exploram a si mesmos, porque lhes assiste o direito de
disporem de suas pessoas como o entenderem, ao passo que os médiuns especuladores
exploram as almas dos mortos.
A
faculdade_mediúnica, mesmo restrita às
manifestações
físicas, não foi dada
ao homem para ostentá-la nos teatros de feira e quem quer que pretenda ter às suas
ordens os Espíritos, para exibir em público, está no caso de ser, com
justiça, suspeitado
de charlatanismo, ou de mais ou menos hábil
prestidigitação. Assim se
entenda
todas as vezes que apareçam anúncios de pretendidas sessões de Espiritismo,
ou
de Espiritualismo, a tanto por cabeça. Lembrem-se todos do direito que compram
ao entrar.De
tudo o que precede, concluímos que o mais absoluto desinteresse é a melhor garantia
contra o charlatanismo. Se ele nem sempre
assegura a excelência das comunicações
inteligentes, priva, contudo, os maus Espíritos de um poderoso meio de ação
e fecha a boca a certos detratores.
Dir-se-á, talvez, que um médium, que consagra todo o seu tempo ao
público,
no interesse da causa, não o pode fazer de
graça, porque tem que viver. Mas, é no
interesse da causa, ou no seu próprio, que ele o emprega? Não será, antes,
porque vê nisso
um ofício lucrativo? A tal preço, sempre haverá gente dedicada. Não tem
então ao seu
dispor senão essa indústria? Não esqueçamos que os Espíritos, seja qual for
a sua superioridade,
ou inferioridade, são as almas dos mortos e que, quando a moral e a religião
prescrevem como um dever que se lhes respeitem os restos mortais, maior é ainda
a obrigação, para todos, de lhes respeitarem o Espírito.Que
diriam daquele que, para ganhar dinheiro, tirasse um corpo do túmulo e o exibisse
por ser esse corpo de natureza a provocar a curiosidade? Será menos desrespeitoso,
do que exibir o corpo, exibir o Espírito, sob pretexto de que é curioso ver-se
como age um Espírito? E note-se que o preço dos lugares será na razão direta
do que
ele faça e do atrativo do espetáculo.Cumpre
não olvidar que as manifestações físicas, tanto quanto as inteligentes, Deus
só as permite para nossa instrução.
Postas de parte estas considerações morais, de nenhum modo contestamos
a
possibilidade de haver médiuns interesseiros,
se bem que honrados e conscienciosos, porquanto
há gente honesta em todos os ofícios. Apenas falamos do abuso. Mas, é preciso
convir, pelos motivos que expusemos, em que mais razão há para o abuso entre os
médiuns retribuídos, do que entre os que, considerando uma graça a faculdade mediúnica,
não a utilizam, senão para prestar serviço.O
grau da confiança ou desconfiança que se deve dispensar a um médium retribuído
depende, antes de tudo, da estima que infundam seu caráter e sua moralidade, além
das circunstâncias. O médium que, com um fim eminentemente sério e útil, se achasse
impedido de empregar o seu tempo de outra maneira e, em conseqüência, se visse
exonerado, não deve ser confundido com o médium especulador, com aquele que,
premeditadamente,
faça da sua mediunidade uma indústria. Conforme o motivo e o fim, podem,
pois, os Espíritos condenar, absolver e, até, auxiliar. Eles julgam mais a
intenção do
que o fato material.
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