47. Por-se em relação, é estabelecer, entre si e a pessoa que se quer magnetizar, uma espécie de acordo prévio simpático, tendo por objeto fazer nascer de um organismo para outro a corrente de transmissão. O encetamento da relação, é uma operação preliminar que precede a qualquer magnetização.
Nesta operação a pessoa_que_magnetiza, concentrando fortemente a sua vontade e a sua atenção, coloca-se no estado mais favorável de expansão radiante, e a pessoa magnetizada, por um repouso físico e moral neutralizante, procura, num estado de calma e descanso passivos, atingir o mais elevado grau de receptividade.
48. Para colocar-se no estado mais favorável de expansão radiante, não é preciso acreditar que seja necessário um grande esforço de contenção; qualquer constrangimento, ao contrário, é nocivo a emissão radiante que uma grande flexibilidade muscular favorece; é do cérebro que parte a ação propulsora, e esta ação, propagando-se ao longo dos cordões nervosos, deve encontrar francos todos os caminhos para a sua passagem. O querer é o verdadeiro foco de ação, mas é preciso um querer contínuo, sem interrupção nem projeção violenta, agindo de maneira regular e firme, como se fora o pistão no organismo mecânico de uma máquina, para expelir a força motora destinada a aplicações industriais.
Aquele que magnetiza, deve considerar-se qual máquina física que produza em si mesma o agente dos fenômenos: sua vontade deve ser ativa, deve querer agir sobre o magnetizado induzindo nele o princípio que sua organização encerra; os braços, as mãos, não devem ser considerados senão os condutores desse agente. (Barão Du Potet)
A relação se estabelece por contato ou a distância.


49. Relação por contato ___ Fazer sentar o doente em um lugar cômodo, onde esteja bem à vontade. Colocar-se na frente dele, tendo os joelhos e os pés opostos aos seus sem tocálos, sentado um pouco mais elevado numa cadeira leve, por exemplo, que se possa manejar facilmente.
Estender os braços para diante, tendo as suas mãos abertas, com a palma para cima, de maneira que aquele que se submete à operação, o paciente, coloque nelas em cheio as suas mãos, palma contra palma, estando os dedos em contato em toda a extensão.
Conservar esta posição de cinco a dez minutos, concentrando bem a atenção, sem fixação do olhar e sem esforço.
Se o doente estiver deitado, coloque-se o mais próximo possível da beira do leito, tendo as pernas aproximadas e estendidas, os braços ao longo do corpo, fora das cobertas; tomar as mãos do doente como acaba de ser indicado para a posição sentada, ou impor simplesmente uma das mãos em cheio sobre a testa ou o peito.

50. Relação à distância ___ Colocar-se sentado em frente ao paciente, como já se disse acima, estender sem rigidez o braço direito para diante, tendo a mão aberta, a palma para baixo, os dedos levemente afastados e ao comprido em direção a testa, a alguns centímetros da raiz do nariz; conservar esta posição durante alguns minutos; depois, por um movimento mui lento, descer diversas vezes a mão da testa ao epigástrio[10], e terminar a operação colocando a mão na direção do epigástrio.
Pode-se variar sem inconveniente a maneira de por-se em relação, consistindo esta operação em uma simples posse do paciente para o estabelecimento da corrente.
Os processos indicados acima são os mais habitualmente empregados, mas cada operador possui os seus:


  • uns como Mesmer, Puyssegur, Deleuze, Aubin Gautier e Bruno, recebem o contato pelos polegares, colocam as mãos sobre as espáduas, descem lentamente muitas vezes ao longo dos braços e terminam por uma imposição prolongada sobre o epigástrio;
  • outros, em lugar de colocarem-se na frente do paciente, ficam ao lado dele e recebem o contato deitando uma das mãos sobre os rins e a outra sobre o epigástrio, conservando deste modo o corpo do paciente entre as suas duas mãos;
  • outros, contentam-se em fazer o contato com uma só mão colocando-a na testa ou sobre o epigástrio;
  • e alguns, há, como o Barão du Potet, que só empregam a ação à distância.

Cada um desses processos pode achar sua aplicação, conforme as circunstâncias e o grau de sensibilidade do paciente. Há casos em que se pode com vantagem alternar o contato e a ação à distância.
51. Cinco minutos bastam mais comumente para estabelecer uma relação contínua: entretanto, cumpre saber que a relação se estabelece mais ou menos rápida, em razão dos temperamentos e do grau de simpatia magnética que une as duas pessoas.
52. Faz-se preciso insistir durante mais tempo, nos primeiros dias, para colocar melhor a corrente do magnetizado no tom da do magnetizador; uma vez bem estabelecida a relação, a ação se renova nas sessões seguintes, no mesmo momento em que se começa a magnetizar. Assim é que, quanto se magnetiza uma pessoa depois de um certo tempo, pode-se dispensar a formalidade de por-se em relação como ato preliminar, e passar desde logo aos processos de magnetização apropriados ao caso; os efeitos se determinam instantaneamente, sem que seja necessário recorrer a uma concentração prévia.
53. Quando se está bem exercitado, sente-se depressa quando a relação está estabelecida; ...


  • um grande calor nas mãos,
  • formigamentos na extremidade dos dedos,
  • um pouco de umidade da palma, são os indícios mais comuns.

Às vezes no paciente, conforme a sua sensibilidade, verifica-se em graus diferentes os sintomas seguintes:


  • palidez ou coloração da pele,
  • aceleração ou diminuição do pulso,
  • tremura das pálpebras,
  • ansiedade,
  • sufocação,
  • depressão que obriga a procurar um ponto de apoio,
  • sensação de quente ou de frio,
  • peso da cabeça,
  • dormência nos membros,
  • impressões ou formigamentos,
  • lágrimas,
  • bocejos freqüentes.

Estes primeiros efeitos se acentuam algumas vezes com sinais mais significativos:


  • propensão ao sono, agitação ou depressão, movimentos convulsivos, contraturas;
  • mas também pode acontecer, e este é o caso mais comum, que nenhum sintoma indicador apareça; entretanto, o ato da relação nem por isso deixa de estar estabelecido, e, pode-se continuar a operação.

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[10] Epigástrio - a parte superior do abdome, entre os dois hipocôndrios.

[131 - Capítulo IV ]