91. Depois de ter examinado as ações de contato resta-nos falar das ações à distância. O
contato, já o vimos, se estabelece pelas mãos, pelos polegares, e colocando-se a mão em
cheio, ou simplesmente a ponta dos dedos, sobre uma parte qualquer do corpo; é pelo
contato que geralmente se entra em relação. Parece que o contato favorece melhor a
concentração da ação e o desenvolvimento das correntes, que ele estabelece mais
profunda e rapidamente a união necessária entre o operador e o paciente; é pelo menos a
impressão que nos causa, pois a união entre dois corpos nos parece mais sensivelmente
perfeita e íntima quando existe a ação material do tocar; e eis a razão pela qual,
instintivamente, se começa sempre a magnetizar pelas ações de contato.
Mas cumpre não nos apegarmos a uma questão de sentimento e de aparência, e se
bem reconheçamos perfeitamente o que têm as ações de contato de útil e bom, é preciso
saber-se que os efeitos magnéticos mais poderosos residem nas ações à distância.
É efetivamente um fenômeno curioso, que, apesar de parecer em desacordo com as
leis existentes, está bem verificado pela experiência.
Constatei o fato pela primeira vez em 1872, sobre um couraceiro do 11º regimento de
guarnição em Angers; este homem querendo fazer um assalto à força com seus
camaradas à casa do encarregado das armas, ferira-se gravemente na coxa manejando
uma bigorna; a imobilização forçada do membro, em conseqüência deste ferimento,
produzira uma pseudo-ankilose na articulação do joelho, que um tratamento de muitos
meses não logrou reduzir e eu consegui restituir-lhe o uso da perna em doze dias.
Logo que fiz a imposição da mão sobre o joelho doente a perna tornou-se dormente e
imobilizou-se como se estivesse pregada ao soalho. Entretanto, não havia insensibilidade,
por isso que logo que eu afastava a mão, desenvolviam-se na articulação dores intensas
que faziam gritar o doente, como se eu lhe tivesse revolvido o joelho com um ferro em
brasa; e, o que é notável, é que quanto mais me afastava dele, tanto mais as dores
tornavam-se intoleráveis; porém cessavam instantaneamente desde que eu tornasse a
colocar a minha mão sobre a parte doente.
Admirei-me bastante, assim como as pessoas diante das quais eu operava, de um
fenômeno que me parecia insólito, mas tive depois tantas ocasiões de verificar-lhe a
constância, que hoje não duvido mais da sua realidade. O magnetismo, diz Mesmer, produz
mais efeito à distância do que quando aplicado imediatamente; existe uma corrente que se
transmite entre a mão do operador e o seu paciente. (Aforismos, 291 e 303)
Homens há que praticam o bem só com um simples contato; outros há que não
fazem menos bem, e que não necessitam tocar. É isto devido à sua natureza ou ao temperamento dos doentes. Os processos se modificam conforme o temperamento dos
magnetizadores e dos pacientes. (Deleuze)
92. Magnetiza-se com ou sem contato, tocando e sem tocar; quando se toca, a união dos
corpos é visível; quando se não toca, estes corpos nem por isso deixam menos de unir-se
pela ação das correntes.
As ações à distância, do mesmo modo que as de contato, se compõem unicamente
de imposições e passes.
Imposições à distância
93. As imposições à distância se executam apresentando a mão estendida, a face palmar para
baixo, os dedos ligeiramente afastados sem estarem contraídos nem rígidos, numa
distância de 10 ou 15 centímetros da parte do corpo em que se quer atuar.
94.Toda imposição à distância, é geralmente precedida da imposição de contato
correspondente, como acima foi descrito (59,_60,_61,_62_e_63); é de regra estabelecer
primeiramente o contato sobre o ponto que se quer atuar depois abandonar o contato e
fazer a imposição à distância.
95. As imposições à distância se distinguem em imposições palmares e imposições digitais.
Para a imposição palmar, dobra-se um pouco o punho, a fim de apresentar ao ponto
que se tem de atuar a palma da mão, ficando os dedos bem perpendiculares e as unhas
para o ar.
Na imposição digital, a mão fixa pelo contrário, bem em cheio, antes apresentada do
que estendida, sem esforço muscular, a palma para baixo, de modo que os dedos apontem
para a parte escolhida.
96. A imposição palmar, apesar de sua ação tônica, tem uma influência mais branda do que a
imposição digital; ela é passiva calmante.
A imposição digital, pela enérgica concentração que determina sobre a parte visada,
tem uma grande potência ativa, comunicativa e excitante.
97. Quando se quer determinar uma ação muito viva sobre um ponto qualquer do organismo
dirige-se sobre esse ponto os cinco dedos reunidos de maneira que as suas pontas quase
se toquem e formem feixe.
Nesta posição, fixa-se a corrente por uma imobilidade absoluta do braço, ou projetase
para diante lançando violentamente o braço por meio de abalos regulares e rápidos
como se se quisesse bater, ou atraindo para si por movimentos lentos e delicados como se
se quisesse acariciar.
O efeito produzido por estas imposições é algumas vezes tão notável que se é
obrigado a suspendê-lo.
Em vez de atuar com os cinco dedos reunidos, às vezes só se atua com o polegar ou
com um, dois ou três dedos; neste caso, dobra-se os dedos não empregados sobre a
palma da mão.
Todos os corpos cujas figuras forem determinadas em ponta ou em ângulo, servem
para receber as correntes e tornam-se seus condutores: pode-se encarar os condutores
como as aberturas dos troncos ou dos canais que servem para fazer escoar as correntes.
(Mesmer, Aph. 166 e 167)
Os cinco dedos de cada mão são outros tantos canais pelos quais se determinam as
correntes. (De Bruno)
É pelas pontas dos dedos, e principalmente dos polegares, que a corrente se escapa
com maior atividade. (Deleuze)
A ação digital diante da fronte acima do nariz entre os dois olhos, ou sobre o globo do
olho, é um processo que, mais do que qualquer outro, imprime mais rapidamente sobre
certos pacientes a dormência cerebral, quando se tem algum motivo para produzi-la. (Aubin
Gauthier)
98. As imposições à distância se fazem mais comumente numa distância de cinco a dez
centímetros; mas ensina a experiência que existem zonas de sensibilidade que, em cada
paciente, podem variar de cinco centímetros a muitos metros; é o tato magnético, assim
como os efeitos obtidos, que indicam ao operador se ele deve aproximar-se mais ou
menos do paciente.
99. As imposições à distância são simples ou duplas como as imposições de contato,
conforme são feitas com uma só ou ambas as mãos.
- Para as imposições simples, emprega-se de preferência a mão direita, como sendo
muito mais ativa.
- As imposições duplas variam na razão dos pontos que se quer por em
relação.
Passes à distância
100. Os passes à distância se fazem geralmente como os passes de contato (79,_80,_81,_82,_83,_84_e_85) apenas com a diferença de que em vez de tocar, apresenta-se a mão a 10
ou 15 centímetros do corpo, do mesmo modo que para a imposição à distância.
São simples ou duplos, conforme se toma por ponto de partida uma imposição
simples ou dupla.
São longitudinais ou rotatórios, conforme se age de cima ou de baixo ou
contornando.
101. Os passes longitudinais, partindo de uma das maneiras indicadas pela imposição simples
ou dupla, se fazem descendo a mão mui lentamente, ou as mãos, do ponto de partida até
ao ponto terminal, de modo a favorecer a marcha descendente das correntes; todo o
efeito retrógrado é contrário à ação magnética.
Nunca se deve magnetizar em sentido inverso das correntes, isto é, subindo dos pés
à cabeça. (Mesmer, Dr. D'Eslon, Deleuze)
A mão do magnetizador derrama o fluido sobre o corpo do mesmo modo que o
chuveiro de um regador distribui a água sobre os rebordos de um canteiro; esta imagem
se aplica aos passes. Porém principalmente aos passes à distância. (Aubin Gauthier)
102. Os passes longitudinais, quando são feitos sobre a extensão dos membros, braços ou
pernas, de cima para baixo da coluna vertebral, ou da cabeça aos pés, são chamados
passes de grandes correntes.
Quando se chega ao ponto em que deve parar o passe, é necessário ter grande
cuidado de não voltar as mãos da mesma maneira que elas desceram; fecha-se-as como
já foi indicado, desvia-se afastando-as um pouco do corpo, e torna-se de novo com certa
presteza à posição primitiva, a fim de recomeçar o passe.
Cada um destes movimentos alternativos deve ser executado com muita calma,
lentidão, regularidade, e principalmente sem precipitação e sem rigidez. É indispensável
que o operador conserve, por todo o tempo dos passes, uma grande flexibilidade nos
braços, nos punhos e mãos, tornando-se nociva toda a contração à emissão radiante.
Um passe feito da cabeça aos pés leva cerca de 30 segundos; demora-se mais ou
menos, conforme as nossas próprias sensações ou as do paciente. (Aubin Gauthier)
Os passes de grandes correntes da cabeça aos pés são fatigantes, e nunca se os
pode continuar por muito tempo; em vez de conduzir a ação de uma extremidade à outra
do corpo de um só jato, pode-se então fazer passes parando nos joelhos, e, depois de
um certo número de passes, fazer um número igual dos joelhos à extremidade dos pés.
(De Bruno, Deleuze)
103. Os passes de grandes correntes têm uma ação inteiramente oposta à das imposições à
distância; quanto têm estas de ativas e excitantes por seu efeito de concentração, tanto
têm aquelas, por seu efeito dispersivo notável, de calma e de frescor, trazendo ao doente
uma sensação indefinível de bem-estar.
Os passes de grandes correntes, executados mui lentamente, em distâncias que
podem variar de dez centímetros a um metro e algumas vezes mais, são soberanos para
acalmarem a agitação, extinguirem o fogo da febre e trazerem um sono reparador.
Cada gênero de magnetização deve ser aproveitado de acordo com o caso; é preciso
empregar os processos, conforme a sua virtude.
Quando um cano conduz a água para o centro de um tanque por diversos jatos, a
força de propulsão se divide entre todos os jatos enfraquecendo-se pelo próprio efeito
desta divisão; mas muito maior quando se concentra em um só jato. Do mesmo modo,
quando toda a mão se dirige para um corpo, a corrente sai pelos cinco dedos, e a palma
da mão cede-lhes a sua ação; depois, quando quatro dedos estão dobrados, toda a força
magnética reside no quinto. (Aubin Gauthier)
104. Os passes rotatórios à distância, em vez de executarem-se longitudinalmente, se fazem
quer apresentando a palma por cima do ponto a atuar, e voltando-se mui lentamente a
mão como se se quisesse polir o bastão de uma bengala, quer apresentando-se os
dedos e virando-se delicadamente como se se desse corda a um relógio. Descreve-se
às vezes uma sucessão de círculos concêntricos maiores ou menores sobre o órgão que
se quer atuar, principalmente sobre o ventre em torno do umbigo ou seguindo as
circunvoluções do intestino.
Estes passes rotatórios se executam como os passes longitudinais, em distâncias
mais ou menos variáveis conforme o caso.
Possuem uma ação especial sobre os engurgitamentos e as obstruções, e atuam
poderosamente sobre a resolução dos quistos e abscessos.
Nas irritações intestinais, as cólicas as supressões e todas as afecções do baixoventre,
empregam-se os passes rotatórios sobre os intestinos em redor do umbigo, e se
os conduz depois por meio de passes longitudinais para os membros inferiores até aos
pés. (Aubin Gauthier)
105. As ações combinadas se empregam à distância, do mesmo modo que com o contato
(86): faz-se a imposição com uma das mãos e um passe com a outra. Em geral, a
esquerda conserva-se passiva no ponto de terminação do passe, e é a direita que,
conservando sempre o papel ativo, executa o passe.
[131 - Capítulo VII ] |