____O
grau de superioridade ou inferioridade dos Espíritos indica naturalmente em que
tom convém se lhes fale. é evidente que, quanto mais elevados eles
sejam, tanto mais direito têm ao nosso respeito, às nossas atenções e à
nossa submissão. Não lhes devemos demonstrar menos deferência do que
lhes demonstraríamos, embora por outros motivos, se estivessem vivos. Na Terra, levaríamos em
consideração a categoria e a posição social deles; no mundo dos Espíritos,
o nosso respeito tem que ser motivado pela superioridade moral de que
desfrutam. A própria elevação que possuem os coloca acima das puerilidades das nossas fórmulas bajulatórias. Não é com palavras que se lhes pode
captar a benevolência, mas pela sinceridade dos sentimentos. Seria, pois,
ridículo estarmos a dar-lhes os títulos que os nossos usos consagram, para
distinção das categorias, e que porventura lhes lisonjeariam a vaidade, quando
vivos. Se são realmente superiores, não somente nenhuma importância
dão a esses títulos, como até lhes desagrada que os empreguemos. Um bom pensamento lhes é
mais agradável do que os mais elogiosos epítetos;
se assim não fosse, eles não estariam acima da Humanidade.
____O
Espírito de venerável eclesiástico, que foi na Terra um príncipe da Igreja,
homem de bem, praticante da lei de Jesus, respondeu certa vez a alguém que o
evocara dando-lhe o título de Monsenhor: "Deveras, ao menos, dizer:
ex-Monsenhor, porquanto aqui um só Senhor há - Deus. Fica sabendo: muitos
vejo, que na Terra se ajoelhavam na minha presença, diante dos quais hoje me
inclino." Quanto
aos Espíritos_inferiores, o caráter que revelam nos traça a linguagem de que
devemos usar para com eles. Há os que, embora inofensivos e até
delicados, são levianos, ignorantes, estouvados. Dar-lhes tratamento
igual ao que dispensamos aos Espíritos sérios, como o fazem certas pessoas, o
mesmo fora que nos inclinarmos diante de um colegial, ou diante de um asno que
trouxesse barrete de doutor. O tom de familiaridade não seria descabido
entre eles, que por isso não se formalizam; ao contrário, acolhem-no de muito
boa vontade. ____Entre
os Espíritos inferiores, muitos há que são infelizes. Quaisquer que
sejam as faltas que estejam expiando,
seus sofrimentos constituem títulos tanto maiores à nossa comiseração,
quanto é certo que ninguém pode lisonjear-se de lhe não caberem estas
palavras do Cristo: "Atire a primeira pedra aquele que estiver sem
pecado." A benignidade que lhe testemunhemos representa para eles um
alivio. Em falta de simpatia, precisam encontrar em nós a indulgência que
desejaríamos tivessem conosco. ____Os
Espíritos que revelam a sua inferioridade pelo cinismo da linguagem, pelas
mentiras, pela baixeza dos sentimentos, pela perfídia dos conselhos, são,
indubitavelmente, menos dignos do nosso interesse, do que aqueles cujas palavras
atestam o seu arrependimento; mas, pelo menos, devemo-lhes a piedade que nos
inspiram os maiores criminosos e o meio de os reconduzirmos ao silêncio
consiste em nos mostrarmos superiores a eles, que não confiam senão nas
pessoas de quem julgam nada terem que temer, porquanto os Espíritos perversos
sentem que os homens de bem, como os Espíritos elevados, são seus superiores. ____Em
resumo, tão irreverente seria tratarmos de igual para igual os Espíritos
superiores, quanto ridículo seria dispensarmos a todos, sem exceção, a mesma
deferência. Tenhamos veneração para os que a merecem, reconhecimento para os
que nos protegem e nos assistem e, para todos os demais, a benignidade de que
talvez um dia venhamos a necessitar. Penetrando no mundo_incorpóreo, aprendemos a conhecê-lo e esse conhecimento nos deve
guiar em nossas relações com os que o habitam. Os Antigos, na sua
ignorância, levantaram-lhes altares; para nós, eles são apenas criaturas mais
ou menos perfeitas, e altares só a Deus se levantam. [17b - página 354 item 280] |