Os gnósticos, como os batistas, os quacres e muitos outros, estão convencidos de que quem recebe o espírito comunica-se, com certeza, com o divino.

O mestre Heráclio (160 d.C.), um dos alunos de Valentino, diz: “primeiros as pessoas devem acreditar em razão do testemunho de outros (...)“, depois, porém, “acreditam na própria verdade”. Seu professor, Valentino, diz ter sido o primeiro a aprender os ensinamentos secretos de Paulo; experimentou, então, a visão que se tornou a fonte de sua própria gnosis : Viu um recém-nascido, e quando lhe perguntou quem era, a criança respondeu: “Eu sou ologos". 78

Marco, outro aluno de Valentino (ca. 150 d.C.) que também se tornou professor, diz como obteve o conhecimento direto da verdade. Narra como a visão desceu até ele (...) na forma de uma mulher (...) e explicou, apenas a ele, sua própria natureza e a origem das coisas, que jamais revelou a ninguém, divino ou humano. 79
(Ver: Vidência)

A presença então lhe disse: “Eu desejo mostrar-lhe a própria Verdade; porque a trouxe lá de cima, para que possa vê-la sem véu e compreender sua beleza.” 80

Esse é o modo, acrescenta Marco, como “a Verdade nua” veio até ele na forma de uma mulher, revelando-lhe segredos. Marco espera, por sua vez, que todos aqueles que inicia na gnosis também passem por tais experiências. No ritual de iniciação, depois de invocar o espírito, ele ordena ao candidato falar de modo profético, 81 para demonstrar que esteve em contato direto com o divino.


78 - Hipólito, REF 6,42.
79 - Irineu, AH 1.14.1.
80 - Ibid., 1.14.3.
81 - Ibid., 1.13.3-4.



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